quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A outra face da guerra

Foram mais de dois anos que centena e meia de homens viveram juntos, irmanados num mesmo local e vivendo os mesmos perigos, as mesmas tristezas.

Éramos praticamente desconhecidos uns dos outros, quando nos reunimos em Santa Margarida, para formar companhia. Em mais de dois anos, vivendo lado a lado, muitas vezes tivemos de nos confortar uns aos outros, quando qualquer de nós, ou todos, em geral, era atingido por qualquer coisa menos boa. Muitas vezes vivemos, quer alegrias quer tristezas, uns dos outros. Quantas vezes, com saudade, recordámos juntos os entes queridos que estavam longe, em especial nos dias mais festivos!

Tudo ficou para trás. Conquistámos finalmente o direito de viver em paz. Ao longo da «comprida, mas cumprida» comissão todos nós aprendemos alguma coisa! Todos nós aprendemos mesmo muito! Todos nós ficámos mais bem preparados para a vida.

Para muitos de nós, foi a oportunidade do primeiro duche diário, muitos militares usaram, pela primeira vez, uma roupa e umas botas para o trabalho e outra para o fim-de-semana.

Mas também foi a oportunidade de verificar que as diferenças entre os militares da cidade e os militares das aldeias, não eram assim tão grandes, depois de fardados todos de igual e com as mesmas oportunidades: os das aldeias, habituados à bota cardada, sentiam-se mais preparados para a bota da tropa; os da cidade, habituados ao sapatinho de luva, arrastavam-se pelos matos com a bota da tropa.

E quando a tropa acabou, mais esclarecidos, regressámos ao "não havia", verificámos que, aquela não era a vida que queríamos para nós, nem para os nossos filhos.

E quando arranjar trabalho no Alentejo se tornou mais difícil, “quando apareceram as ceifeiras-debulhadoras e a monda química por avioneta”

Disse adeus à ceifa e à apanha da azeitona, às açordas de alho e aos “jantarinhos” de feijão, e vim trabalhar para a Marinha Grande. No fim do dia tirava oitenta escudos, ordenado que tiraria como tractorista, se tivesse continuado no Alentejo.

“Vim a pensar no filho, porque não queria que ele passasse o mesmo que eu passei”.

Fui para a cidade à procura de um trabalho, de um salário diário e de algumas regalias sociais.

As anedotas sobre os Alentejanos começaram a ter resposta, e explicámos aos meninos da cidade o que era um "chaparro".

E levámos para a terra de acolhimento as nossas culturas, os nossos saberes e os nossos sabores. Como se sabe, o Alentejo é rico em gastronomia, utilizando muitas vezes ervas aromáticas (na Marinha Grande não se conheciam poeijos, orégãos e coentros, hoje encontram-se à venda no mercado e nas superfícies comerciais).

É certo que este vasto aglomerado de empresas não pagava ordenados por aí além. Mas tinha uma inestimável vantagem para quem vinha do Alentejo: garantia de trabalho contínuo, chovesse ou fizesse sol, estivesse o patrão bem ou mal disposto, e algumas regalias sociais. Que mais poderia desejar quem chegava de uma terra onde grassava o desemprego, onde o pão dependia dos humores do clima e do proprietário rural, e as jornas se contavam por tostões?

Vindo de todos os cantos do Alentejo, do Alto do Baixo ou do Litoral, os alentejanos transportaram na sua bagagem o apego à terra que os viu nascer, juntamente com os seus usos e costumes, e uma cultura popular. Nessa cultura sobressaía o "cante", grande hino identitário, lembrando a terra deixada, os usos e tradições. O "cante" dá-nos a oportunidade de matar saudades, deixa expandir as mágoas e mostra que, mesmo longe, continuamos a ser Alentejanos.

Manuel Calhanas

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Fiquem atentos!

Uma nova etapa está a decorrer...
Brevemente alguns trabalhos!

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